A arrogância é uma péssima estratégia: as lições de Silva X Weidman


Ele pagou o preço merecido por humilhar seu rival



“O que deu em Anderson Silva?

Na noite de ontem, quando defendia o cinturão dos pesos médios do UFC, ele mais parecia um palhaço do que um lutador dentro do octógono. Pior: um palhaço pretensioso.

A atitude de Anderson foi incompreensível. Ele é o maior lutador da história do MMA, com um recorde de 10 defesas de cinturão do UFC e sete anos invicto. O que ele queria provar humilhando seu adversário, o americano Chris Weidman, um jovem de 29 anos que buscava fazer seu nome no esporte, na luta de ontem?

A fanfarronice do Spider começou ainda antes da luta. Quando o árbitro juntou os dois atletas para falar as regras do combate, Weidman ofereceu a mão para cumprimentar Anderson, que deixou o rival no vácuo, limitando-se a fazer um sinal com a cabeça. Depois, ao longo do primeiro round, Anderson decidiu abaixar a guarda, dançar e pedir para Chris bater em sua face. Parecia um adulto brincando com uma criança de 4 anos: “Dá um soco no tio, dá.” A cada golpe desviado, as provocações se intensificavam.

A mensagem que Anderson queria passar para Weidman era clara: “O seu melhor é insuficiente para me arranhar. Eu sou uma lenda e você, um moleque.” Ele parecia um bully de colégio humilhando o colega magricelo de classe.
No primeiro round, ele se safou com a palhaçada.

No segundo, porém, tomou uma merecida esquerda no queixo e caiu como uma Bastilha diante dos revolucionários franceses. Weidman ainda deu alguns murros em Anderson no chão, para garantir a vitória, até que o árbitro californiano Herb Dean separou os dois. O maior reinado da história do MMA chegara ao fim.

Anderson mereceu esta lição.

Em 2010, antes de tornar-se um ídolo incontestável no Brasil, Anderson enfrentou o compatriota Demian Maia em sua sexta defesa do cinturão. Sim, ele venceu por pontos, mas quase queimou o seu filme com o público. O motivo? Assim como estava fazendo ontem com Weidman, o Spider passou a luta inteira tirando sarro de Maia. Tamanha foi a sua cena no octógono que Dana White, o presidente do UFC, pela primeira vez em sua vida deixou uma luta de título antes do final.

“Nunca estive tão constrangido”, Dana falou na ocasião. “Isso foi uma desgraça e é sem dúvida o meu pior momento como presidente do UFC. O que Anderson fez foi a coisa mais horrível que já vi. Não sei porque ele agiu daquele jeito. “

Após a luta, Anderson pediu desculpas: “Não sei o que aconteceu comigo. Tenho de rever os conceitos. O que aconteceu aqui nunca mais vai acontecer.” 

A promessa durou três anos, pois o que ele fez ontem contra Weidman foi igualzinho, exceto pelo fim – em vez de terminar a noite levantando o cinturão, terminou beijando a lona e agarrando as pernas do árbitro.

Qualquer pessoa que já assistiu Anderson no octógono sabe que, tecnicamente, ele é muito superior a Weidman. Se tivesse levado a luta a sério, provavelmente teria estendido seu recorde absoluto para 11 defesas de cinturão.

Só que não: para ele não bastava ganhar, era preciso também humilhar seu adversário. Foi uma piada.

Como brasileiro, o momento da história do UFC que mais me deixou orgulhoso foi a derrota de Junior Cigano para Cain Velásquez, em novembro de 2011. O lutador catarinense, que defendia o cinturão dos pesos-pesados, apanhou durante 5 rounds seguidos de Velásquez. Ele não caiu (só Deus sabe como) e ainda saiu do octógono com um sorriso imenso em seu rosto inchado.

Naquela noite, Velásquez provou que era um grande lutador.

E Cigano, que era um grande homem.

Anderson, por outro lado, deixou claro ao atropelar todos adversários nos últimos 6 anos que é um atleta espetacular. Mas nas lutas contra Demian Maia e Chris Weidman, revelou-se um homem pequeno, tal como um bully que precisa humilhar os outros para sentir-se maior.

Para mim, a luta de ontem deixou uma lição clara: a arrogância é uma péssima estratégia, tanto para a luta quanto para a vida.

Admito, torci contra Anderson e acho que ele mereceu aquele destino. E antes que alguém me acuse de antipatriota, explico: quero o cinturão no Brasil, sim. Mas na cintura de um homem cuja atitude (e não somente a habilidade) me orgulha. Talvez Wanderlei Silva ou Vitor Belfort. Mas Anderson Silva, não.”

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