Mauro Santayana, Blog: MauroSantayana
“Brayan, menino de cinco anos, está
abraçado à mãe. O pai, o tio e outros moradores da casa se encontram submetidos
a um bando de assaltantes, armados de facas, dois deles com armas de
fogo. Assustado, o menino chora, para que não matem a mãe, jovem
boliviana de 24 anos. O pai, de 28, desespera-se, mas está sob o cano de
um revólver. Os assaltantes já recolheram o dinheiro da família, querem mais. O
menino implora, não quer morrer. O assaltante ameaça: se não calar, vai ser
degolado. O menino grita ainda mais alto o seu desespero – e leva um tiro na
cabeça.
No passado os crimes de latrocínio, muito raros, tinham como vítimas as pessoas ricas ou de classe média alta. E era inimaginável que matassem crianças, como Brayan. Ocorriam com mais freqüência os furtos, em que se destacavam os batedores de carteira, com sua agilidade nos dedos, capazes de tirar o dinheiro dos bolsos alheios sem dificuldade. E os “vigaristas”, que exploravam a boa fé (e a má fé, também) dos desavisados, com estórias bem elaboradas para lhes tomar o que pudessem. Hoje, os vigaristas contam outros contos, principalmente usando a internet, além da conhecida manobra dos falsos seqüestros, em que, por telefone, fingem-se parentes e pedem dinheiro para dar aos ”seqüestradores”. Já agora, o que predomina é a violência dos assaltos à mão armada e seqüestros relâmpagos, muitos deles com a morte brutal das vítimas – quase sempre comandados dos presídios.
Os pobres raramente furtavam dos pobres. O que predominava entre os trabalhadores, em seus subúrbios e nas favelas, era a solidariedade. Um pai de família desempregado podia contar com os amigos, que se revezavam para que seus filhos não passassem fome. Quando alguém adoecia, podia estar certo da ajuda e da assistência dos companheiros.
Nas favelas e nos subúrbios, a ordem é a do medo, com os moradores submetidos aos chefes locais do tráfico e aterrorizados pelos “milicianos” e pelas batidas policiais. E há pobres que exploram os ainda mais pobres, e os matam, sem a mínima compaixão.
A relativa prosperidade do Brasil tem atraído trabalhadores dos países vizinhos, entre eles, a Bolívia. Infelizmente, chegando ao país de forma irregular, não têm trabalho legal, submetem-se à necessária clandestinidade, e se tornam vítimas de máfias. Geralmente se endividam para a viagem, e os credores quase sempre são seus próprios compatriotas, que aqui continuam a explorar o seu trabalho semi-escravo.
O poder público se ausenta da sorte desses imigrantes, que têm todo o direito a buscar o espaço de sua sobrevivência. E à família de Brayan – além da indiferença, até agora, de seu consulado – não foi prestada qualquer assistência moral.”
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