Conto de fatos


Maribel Verdú, perfídia no silêncio
de uma arena sevilhana

Branca de Neve e A Bela que Dorme, ambos estreando nos cinemas este final de semana, se acertam mais com a realidade do que com a fantasia dos contos de fada.


Das referências de origem ou metafóricas contidas no título, Branca de Neve e A Bela que Dorme, ambos estreias obrigatórias de sexta 5, têm um acerto muito mais ambicioso a realizar com a realidade do que com a fantasia dos contos de fada. No primeiro, o espanhol Pablo Berger leva aos áureos anos 1920 das touradas e suas estrelas a história dos Irmãos Grimm. Filma em preto e branco, no formato mudo. Sua heroína é filha órfã de mãe e de um toureiro machucado na arena que fica paralítico. Este se casa com a enfermeira (Maribel Verdú), madrasta que será o demônio para ambos. Berger partiu de um livro de fotos sobre a Espanha, como contou a CartaCapital, mas reconhece ter o filme adquirido novo tom a partir da recente crise. “Há algo de negro na sociedade espanhola atual e acho que isso tem a ver com o período de esplendor retratado no filme”, diz o entusiasta de Carl Dreyer e Murnau, que mereceu pela produção dez Goyas.

Para Marco Bellocchio, o diretor italiano de Bella Addormentata, que teria melhor tradução como ‘Bela Adormecida’, os vínculos com a situação contemporânea devem ser feitos pelo espectador. Parte do drama real da jovem Eluana Englaro, que após um acidente de carro permaneceu em coma 17 anos. É o pano de fundo para que o habilidoso cineasta trace um painel ficcional em torno da tragédia que mobilizou o país, a exemplo do senador (Toni Servillo) em dúvida ao votar uma lei sobre o direito a eutanásia e sua filha, militante católica pela vida (Alba Rohrwacher), e da atriz e mãe (Isabelle Huppert) que se dedica à filha em coma. Na entrevista a CartaCapital, o diretor evita moldar seu filme à atualidade, mas não são poucos a ver na sua bela que dorme a própria Itália devastada por Berlusconi.”

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