De humor fino e marginal, revista "F." volta em setembro

Charge que estará na primeira edição da nova "F."

Publicação traz trabalhos de Allan Sieber, Arnaldo Branco e Leonardo, além de colaboração do argentino Sergio Langer


Os órfãos da (talvez) única revista séria de humor que o Brasil teve nos anos 2000 podem se animar: a F. vai voltar. A publicação, que viveu em quatro edições entre 2004 e 2006, começa a circular de novo em meados de setembro, mas em roupagem diferente.

A proposta é ter uma edição em aplicativo, com coisas novas a cada 15 dias ou um mês. Ao final de um ano, o crème de la crème das edições publicadas com base na plataforma iPub, para iPad, ganham páginas impressas em um anuário, que será vendido em livrarias.

A ideia de resgatar o projeto underground depois de sete anos veio de fora. “Há uns três meses me convidaram para um festival de quadrinhos em Lima, onde estive com o [Fabio] Zimbres e o [argentino Sergio] Langer”, conta o cartunista gaúcho Allan Sieber à CartaCapital. “O Langer comentou que ele gostava da F., que não tem mais revista de humor, e colocou uma superpilha para a gente voltar. Conversei com o pessoal da Toscographics [sua produtora] e eles se animaram.”

Além de Allan Sieber (autor de Vida de Estagiário e Assim Rasteja a Humanidade), a revista que vai além dos quadrinhos e traz sacadas hilárias - como a famosa fotonovela -, tem no chamado “conselho de anciãos” (uma espécie de corpo editorial), o carioca Arnaldo Branco (Mundinho Animal e Capital Presença) e o mineiro Leonardo (chargista do jornal Extra).

Questionado se a falta de papel o incomoda, Leonardo admite que sim, mas afasta a melancolia bem humorada com pragmatismo. “Eu gosto de papel, sou um romântico. Mas é inviável fazer revista. Se naquela época já era um devaneio esse lance de revista, com as bancas sendo um território bastante hostil, hoje então...”, explica sobre a diversidade de produtos hoje vendidos nas bancas, como DVD, cigarro, balas.

“Revista é uma merda, ninguém compra, sempre há problema”, ironiza Allan. “Quando saiu a última F., perto da Copa de 2006, perguntei sobre ela em uma banca em Porto Alegre, o dono disse que não tinha. Encontrei-a atrás de uns DVDs pornôs gays, e aí senti realmente o drama: nem com uma tiragem realmente grande a gente consegue vender.”

Inspirada na falecida Chiclete com Banana, O Pasquim, a argentina Barcelona e nas francesas L’Écho des Savanes e Charlie Hebdo, a F. tinha uma tiragem média de entre 5 mil e 7 mil exemplares. No último número, foram impressos 33 mil, mas apenas 3 mil vendidos. “O Leo chegou a ter um sofá de F.s encalhadas, no qual a gente sentava para conversar e ver TV”, lembra Arnaldo sobre os exemplares não vendidos.

Seções. Apesar do novo formato, a publicação mantém as seções de antes, como a grande entrevista (que teve nomes como Fausto Wolff, Mr. Catra e Diogo Mainardi e deve trazer Jaguar, Alexandre Frota, Rita Cadillac e Marcos Feliciano), além do trabalho de colaboradores (como MZK, Schiavon e Zimbres). As grandes novidades são a fotonovela, que agora passa a ser em vídeo também, e o trabalho de Langer, que compõe parte do time fixo. 

Diferentemente da versão impressa, que era tocada por Allan, Arnaldo e Leonardo, a nova F. será feita por Cynthia B. (também da Toscographics), Pablo Carranza e Daniel Lafayette, sob consultoria dos três cartunistas “anciãos” - como gostam de se definir.

Mas, por fim, por que uma revista se todos os "anciãos" envolvidos já publicam há algum tempo? Enquanto Allan defende uma publicação em “esquema de gangue”, com a cara de uma turma, Leonardo e Arnaldo falam em “fetiche”. “É algo meio sexual mesmo. Ainda rola essa coisa do papel com o lance do anuário, que é mais aquilo de colecionador mesmo. É meio obsoleto, mas é eterno", diz Arnaldo. "A arte não é 'útil', e mesmo essa nossa, que é a nona arte, ali na zona do rebaixamento, tá valendo."

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