Leila Cordeiro, Direto da Redação
“Li semana passada em uma coluna especializada em TV (Leo Dias, no jornal
O Dia) a seguinte nota:
"Daniela Mercury causou
a maior saia justa durante uma gravação do ‘Altas Horas’, no estúdio da Globo em São Paulo, há duas
semanas. A situação ocorreu quando Bárbara Paz, a pedido do apresentador do
programa, Serginho Groisman, falou da cena em que Edith, sua
personagem em ‘Amor à Vida’, revela na mesa de jantar que seu marido, Félix
(Mateus Solano), é gay. Logo depois, a cena foi exibida para o público e veio o
comentário de Daniela: "Achei essa cena um horror, um desrespeito. O que é
isso?", perguntou a baiana. Bárbara, então, respondeu: "Mas você vê a
novela diariamente? Essa cena está dentro de um contexto". Sem querer
ceder, a cantora respondeu: "Não importa! Achei de um mau gosto tratar um
gay dessa forma".
O programa não foi ao ar
ainda, está previsto para o dia 7 de setembro, e não se sabe se esse trecho
será cortado, pois a atração é editada depois de gravada. A mesma dúvida
ocorreu ao colunista que entrou em contato com a assessoria de imprensa da
Globo para saber se ele será exibido na íntegra. E ouviu a seguinte resposta:
"Como todo programa de
auditório pré-gravado, o ‘Altas Horas’ pode ter um tempo maior captado do que
sua duração no ar e ele precisa ser adequado à sua exibição. O programa tem no
mínimo quatro convidados falando de assuntos diferentes, duas ou mais bandas e
quadros diversos. O critério da edição é artístico e leva em conta deixar o
programa dinâmico, divertido e atual".
Ou seja, ficamos sabendo do
acontecido por uma coluna de TV, o que certamente aguçou a curiosidade dos
leitores que acompanham a novela “Amor à vida” e não sabemos se ela será
mostrada ao público. Cortar por problemas técnicos ocorridos durante a gravação
é justo, mas cortar conteúdo não é uma prática elogiável, especialmente quando
o quadro trata de questão polêmica e que é tratada quase diariamente na novela,
em seus vários ângulos.
Mas, voltando ao assunto do
que se deve ou não dizer em público para não ferir susceptibilidades, acho
sinceramente que está havendo um exagero de julgamento por parte de quem saiu
do armário em relação ao mundo exterior. Acredito que alguém que tenha passado
por isso, assim como Daniela, deveria ser mais aberto também ao que possa ir de
encontro à suas convicções, seja na ficção ou na realidade.
A atriz que faz o papel de
Edite esteve certa ao perguntar à cantora se ela assistia regularmente a trama,
porque quem acompanha a novela, eu inclusive, percebe que o autor tem
colocado a questão da homossexualidade aberta ao debate entre os personagens.
Há pensamentos como o do Dr. Cesar
(Antonio Fagundes) que, inconformado ao saber da orientação sexual
do filho Felix (Mateus Solano), declarou que não tem preconceito contra
os gays, “mas não admite que o filho o seja”. Ao contrário da
posição do pai, a mãe Pilar (Suzana Vieira) e a avó Bernarda (Natalia
Thimberg), aceitaram e apoiaram a orientação do filho e neto, mostrando
que o folhetim está aberto aos dois lados da questão.
Abro aqui um parêntesis para dizer que sou
fã de Daniela e respeito sinceramente seu ponto de vista, mas acho que não se
justifica sua revolta contra a cena de uma novela que está aprofundando o
debate sobre o homossexualismo e os preconceitos contra os gays. Justiça seja
feita, nunca a Globo abriu um espaço tão grande para a discussão do tema tão
abertamente.
Daniela Mercury, com o prestígio que tem,
teve força suficiente para declarar publicamente sua orientação, mas ela
precisa se cuidar para não parecer insegura e até mesmo preconceituosa contra
tudo e contra todos que eventualmente possam pensar diferente dela.
Se a nossa querida cantora baiana,
considerada a rainha do axé, resolveu assumir uma posição na vida, penso eu,
deve mantê-la intacta de qualquer polêmica externa que possa vir a incomodá-la.
Afinal, não existe nada melhor do que se estar de bem com a gente mesmo e com
nossas escolhas.”
Comentários