Cantada de rua: apenas parem

83% das mulheres não gostam de cantadas na rua

Abordar mulheres desconhecidas em lugares públicos é agressivo. Pesquisa aponta que 83% das mulheres não gostam das cantadas de rua

Nádia Lapa, CartaCapital / Feminismo pra quê?

Durante vários anos, eu voltava de ônibus da faculdade e descia bem em frente a um quiosque de sorvete. Aqueles, de casquinha, que eu costumava pagar com um trocado qualquer encontrado no bolso. Morava no Rio de Janeiro, cidade calorenta, e a tal sorveteria fica em plena Avenida Nossa Senhora de Copacabana, a mais movimentada do bairro.
Eram dois quarteirões entre a lanchonete e a minha casa. Antes de chegar à portaria, já tinha tomado o sorvete todo. Não por gulodice, mas porque aquela experiência tinha que terminar logo. Logo. O mais rápido possível. Era sempre início da tarde, o céu muito azul, as pessoas indo-voltando de bancos, supermercados, trabalho, farmácia. E, no meio daquelas pessoas, gente como a gente, sem qualquer aparência monstruosa, alguns incontáveis homens faziam gestos e falavam palavras obscenas. Gente que eu nunca vi. Que eu nunca mais veria. Mas que transformavam o simples prazer de tomar sorvete num verdadeiro suplício.

A sensação era horrível. Os homens olhavam para mim e faziam gestos remetendo a sexo oral, das formas mais nojentas possíveis. Eu me sentia constrangida, mas nunca parei de tomar meu sorvete - só o fazia o mais rápido que podia, além de jamais manter contato visual com qualquer estranho.

Eu pensava que tal coisa só acontecia comigo. Mulheres não temos clubinhos ou encontros semanais, como os homens no futebol ou na antiga maçonaria, para compartilhar coisas do dia a dia. Depois que comecei a escrever sobre feminismo, perguntei algumas vezes no Twitter se a abordagem agressiva ao tomar sorvete também acontecia com outras mulheres. As respostas foram sempre positivas - e incluíam outros alimentos, como churros.”
Artigo Completo, ::AQUI::

Comentários

Recomendado para Você..