Inventando a roda


Como estudar demanda certo esforço, nós aqui em Bruzundanga preferimos inventar a roda / Flickr

Como estudar demanda certo esforço, nós aqui em Bruzundanga preferimos inventar a roda


Nada existe no vasto universo cuja invenção mais vezes se repita do que a roda. Toda hora aparece alguém imaginando que, desgastando-se os cantos do quadrado até encontrar uma figura com todos os pontos equidistantes do centro, pode-se obter a forma perfeita.

Tempos atrás assisti a uma entrevista com um diretor do cinema nacional em que ele afirmou, com o olhar de quem acabava de inventar a roda, que muito já se falou dos excluídos e que o novo passo adiante, dado por ele, evidentemente, era mostrar o excluído falando de si mesmo.

Há vários enfoques que o assunto merece, e nosso espaço é limitado. Mas vamos lá. Seria bom que o diretor em causa se lembrasse do cinema italiano, em sua vertente neo-realista. Em 1978, cerca de trinta e poucos anos atrás, o diretor Ermanno Olmi dava à luz o premiadíssimo A árvore dos tamancos. E seu filme era uma novidade. O elenco era formado pelos camponeses de uma aldeia na província de Bérgamo, na Itália. Não havia atores profissionais. Figurantes, protagonistas e antagonistas eram todos habitantes do local em que se desenrolava a história.

E mesmo isso, essa ânsia do artista em copiar a realidade, em reduzir a arte a mera reprodução do existente, me parece um equívoco. Para não entrar numa discussão em que Schopenhauer afirma não conhecermos o mundo, mas a representação que dele fazemos, me valho da sabedoria de um dos maiores intelectuais que já nasceram neste país: Mário de Andrade.

É de seu “Prefácio interessantíssimo” a seguinte passagem: “Belo da arte: arbitrário, convencional, transitório − questão de moda. Belo da natureza: imutável, objetivo, natural − tem a eternidade que a natureza tiver. Arte não consegue reproduzir natureza, nem este é seu fim.”

Precisa mais?

Como estudar demanda certo esforço, nós aqui em Bruzundanga preferimos inventar a roda. Tem gente por aí, e gente muito importante no universo literário, achando que encher uma página de palavrões é o canal, significa modernidade. Apollinaire, Aretino, o próprio Jorge Amado, nessa hora, entortam a boca em sorriso de mofa. E “sorriso de mofa”, não vai tornando-se já um palavrão?”

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