André J. Gomes, Revista Bula
“Segunda-feira. O sujeito acorda atrasado
às sete horas da manhã. Levanta-se às pressas, segue tropeçando até o chuveiro,
lava rápida e porcamente suas vergonhas, se veste mal e segue acelerado para o
trabalho, enquanto lamenta mais uma vez não ter sido sorteado na mega-sena do
final de semana.
No trânsito, ele não dá passagem aos
motoristas das faixas ao lado, avança contra pedestres, buzina ameaçador para
os motoqueiros que o ultrapassam por todos os lados — por cima, por baixo, por
dentro — e deseja a morte sofrida de todos que saíram de casa só para impedi-lo
de correr mais rápido na avenida congestionada.
Ele chega ao trabalho e não responde a
nenhum “bom dia” no elevador, reclama em voz alta da moça da faxina que mudou a
posição de seu teclado dois centímetros para o lado na hora da limpeza, liga o
computador, entra em seu perfil no facebook e digita:
“Uma semana de paz e amor a todos. Que Deus
ilumine seus corações e encha seus caminhos de alegrias. Bom dia, planeta
face!”
O dia é produtivo. Ele puxa o tapete de
seus colegas, pressiona fornecedores, chantageia a ex-mulher, esculhamba em
pensamento a Deus e aos 12 apóstolos. Porque já provou ao universo que é “do
bem” e, afinal, quem é “do bem” pode odiar o mundo em paz. Mas precisa ser em silêncio. Você
sabe, algumas coisas a gente não pode tornar públicas, sobretudo aquelas que a
gente realmente sente. Então, é melhor dizer sobre você apenas aquilo que o
mundo vá curtir e compartilhar.”
Artigo Completo, ::AQUI::
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