Mitos
desfeitos
Claudio Lembo, Terra Mgazine / Blog do
Cláudio Lembo
‘Todas as ficções geradas pelas elites,
durante longos períodos, ruíram. Entre estas, a mais difundida se expressava na
afirmação sobre a cordialidade do brasileiro.
O brasileiro é o homem cordial. Já diziam
os viajantes do período colonial. Quando o forasteiro chega à sua casa, o
brasileiro o recebe com satisfação e sentimento de solidariedade.
Iam mais além. Apontavam os mesmos
viajantes o respeito da comunidade à força policial. Corria um tumulto popular
em cidade localizada no sul.
Chegaram dois soldados e tudo acabou, conta
o viajante. A ordem foi prontamente restabelecida. Bons tempos em que a
autoridade era respeitada.
Tudo mudou. Ou a realidade venceu. A
violência mascarada, porém endêmica, saltou para a primeira página dos jornais
e ocupa os noticiários da internet e televisão.
Durante largo período, alguns poucos se
ocuparam em denegrir todas as personalidades investidas em cargos
administrativos. Governantes e agentes públicos foram tratados como se fossem
delinquentes natos.
Professores deixaram de ser respeitados. Todo
aquele que se ocupa de assuntos coletivos passou a ser ironizado ou mesmo
violentado moralmente.
Não sobrou pedra sobre pedra. Agora, as
pedras são utilizadas para atos de violência indiscriminada. A qualquer
pretexto violam-se bens públicos e privados.
Agridem-se autoridades legitimamente
investidas em seus cargos e em pleno exercício de suas funções. É inadmissível.
A violência é um instrumento pernicioso para alguém se fazer ouvir.
Os últimos acontecimentos ocorridos nas
cidades de todo o Brasil, especialmente Rio de Janeiro e São Paulo, apontam
para uma enfermidade grave da sociedade.
Alguns perderam o respeito por tudo e por
todos. É o caos. Ora, uma sociedade pode conviver com posições antagônicas. É
até positivo. Demonstra que esta viva e reage.
Uma sociedade, contudo, não pode conviver
com a violência que fere a dignidade humana. Rompe a integridade física das
pessoas. Entre as grandes conquistas da humanidade se destaca o Estado de
Direito.
Este se encontra balizado pela lei. E a lei
indica os limites de atuação dos governantes e também dos governados. Estes não
podem ferir impunemente os valores do convívio coletivo.
Quando isto ocorre e não há o pronto
posicionamento do Estado, fica demonstrado que os governantes se mostram fracos
em preservar a rigidez de todo social.
Em momentos de tensão social, mesmo que
localizada, surgem os grande lideres. Foi assim em todas as partes. Não pode
ser diferente por aqui, sob pena de chegarmos à anomia social.
Já basta a negação da afirmação histórica:
a cordialidade do brasileiro. Não se pode avançar para outra constatação. A
nossa sociedade está enferma e a caminho do colapso.
Só os desavisados podem aceitar esta
perspectiva. Os governantes, nas democracias, têm a obrigação cívica de manter
a harmonia social e afastar, por meio do devido processo legal, todas as formas
de agressão.
Sente-se uma apatia dos administradores
públicos. Em véspera de eleição, governantes procuram se preservar na inação. Especialmente,
depois da implantação da reeleição, que violou a História política republicana.
Transformou-se em agente da
violência.”
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