Heterossexuais e gays: livro revela quem pegava quem em Hollywood


Euler de França Belém, Revista Bula

“O livro “Servicio Completo — La Secreta Vida Sexual de las Estrellas de Hollywood” (Anagrama, 328 páginas, tradução de Jaime Zulaika), de Scotty Bowers e Lionel Friedberg, mereceu resenha (“Scotty Bowers, el Alcahuete de Hollywood”), assinada por Sergi Doria, e quatro estrelas do jornal espanhol “ABC”. Bowers, além de traçar homens e mulheres, com sua bissexualidade avassaladora, arranjava parceiros e parceiras para atores e diretores famosos de Hollywood.

Em Hollywood, onde era frentista de um posto de gasolina, Bowers começou a encantar homens e mulheres. Walter Pidgeon, que fez personagens “respeitáveis”, como o sr. Curie, abordou-o: “O que vai fazer no restante do dia?” Nada, claro, pois o jovem — “simpático, sexualmente bem dotado”, bissexual definido — não tinha preconceito. Saíram e foram felizes.

O livro foi escrito em parceria com o produtor e roteirista Lionel Friedberg, que entrevistou Bowers exaustivamente. Ele contou que, durante 40 décadas — de meados dos 1940 aos anos 1980, os da “Hol­lywood Babilônia” —, serviu sexualmente a homens e mulheres. Ele aceitou contar tudo, sem limitações. A modalidade sexual mais frequente dele e dos parceiros era a felação. Charles Laughton apreciava coprofilia. Tyrone Power também não era ortodoxo.

Bowers, que era casado com uma mulher, garante que tinha preferência por mulheres, mas aceitava qualquer “negócio”. Ele manteve casos ou transas com Vivien Leigh e Edith Piaf, mas, no livro, admite que fazia mais sucesso com os gays. “Segundo suas próprias estatísticas, 60% de seus clientes eram ‘gays ou lésbicas e 40% eram heterossexuais’, relata o resenhista Sergi Doria.

Entre os homossexuais que foram parceiros ou clientes de Bowers estavam Noël Coward, Cole Porter (sua preferência era o sexo oral), George Cukor (sua paixão também era sexo oral), Vincent Price, Ramón Novarro e Raymond Burr (“quem diria que Perry Mason era gay”, anota o resenhista do “ABC”). Novarro, latin lover do cinema mudo, chamava sêmen de mel, segundo Bowers. Como cafetão, arranjou mulheres para o milionário maníaco Howard Hughes e para Harold Lloyd. Já Errol Flynn e William Holden saíam com mulheres lindas, mas, como estavam sempre bêbados, às vezes não conseguiam completar o ato sexual. Bowers relata que às vezes tinha de substitui-los, para não desagradar as mulheres.

O elegantíssimo Cary Grant e o rei do faroeste Randolph Scott eram mesmo “casados”, garante Bowers. Este não raro participava da vida sexual do casal. Os duques de Wind­sor encantavam-se com Grant, Scott e Bowers. Edgar Hoover, o discreto diretor do FBI por quase 50 anos, não sai incólume. Era gay.


“A Katharine Hepburn, lésbica insaciável, Scotty chegou a apresentar 150 mulheres. O amor eterno por Spencer Tracy era uma fachada criada pelos produtores” de Hollywood. “Tão falso quanto a imagem de garanhão criada para Rock Hudson.” James Dean e Montgomery Cliff, que tiveram parceiros gays, não agradavam Bowers. Dean, que mantinha casos com homens e, mais, mulheres, era “mal educado e desagradável”. Monty Cliff, amigo íntimo de Elizabeth Taylor — sem nunca tocar-lhe num fio de cabelo —, era, nas palavras de Bowers, uma “louca temperamental e mal humorada” e “tinha uma assombrosa língua viperina”. Bowers diz que Dean e Monty olhavam as pessoas “do alto”, sem respeitá-las.

Quem era o ator ou diretor mais promíscuo de Hollywood? Difícil dizer, pois os atores e diretores eram muito promíscuos, mas Bowers assinala que, em termos de promiscuidade, Rock Hudson era hors concours. Hudson, que morreu em decorrência da Aids, “recorria às ruas todas as noites” e levava para a cama até “vagabundos”. Ele levava jovens de toda a cidade, até de madrugada, para sua casa. Era um “sexo mecânico, sem erotismo”. A regra de Hudson era quanto mais, melhor, não importando a “qualidade”.

Bowers fazia tanto sexo que chamou a atenção de Alfred Kinsey, o homem que estudou a sexualidade americana em detalhes. Bowers diz que, quando falavam de sexo, sobretudo sobre a homossexualidade feminina, Kinsey e seus assistentes mostravam que eram “ingênuos” e “es­treitos”. O que eles sabiam sobre sexo não era aquilo que de fato ocorria nas camas. “Para passar da teoria à prática, e seguindo o conselho de Somerset Maugham, organizou uma orgia para Kinsey no hotel Beverly Hills. ‘Era um espetáculo de sexo cru, aberto, totalmente desatado. Em alguns momentos me pegava rindo ao observar sua cara’.”

Bowers, que tem 90 anos, diz que seu “serviço completo” fez muita gente feliz. O jornal espanhol pergunta: “Testemunho veraz ou exagerado?” E responde: “Ninguém pode contradizer Scotty. Seus parceiros estão mortos”.

Se brasileiro, com a onda de censores como Chico Buarque e Caetano Veloso – criadores da “Lei Chicano” (contra as biografias não autorizadas) —, Bowers não conseguiria publicar o livro. Mas, se o editasse, seria condenado a pagar indenizações milionárias. A dupla Chicano está cada vez mais parecida com dona Solange, a célebre censora da ditadura.”

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