José Inácio Werneck, Direto da Redação
“Há coisas que me irritam na
imprensa brasileira como, por exemplo, as eternas queixas de que os Estados
Unidos nos olham com desrespeito quando se referem à América Latina como o seu
“backyard”, o seu quintal.
Tais lamúrias surgiram mais
uma vez quando John Kerry, o Secretário de Estado, esteve recentemente em
Brasília.
Na verdade, a expressão “my
backyard” ou “our backyard” nada tem de ofensiva nos Estados Unidos. Indica uma
gradação de proximidade, não de hierarquia. Quando, por exemplo, querem
construir uma usina atômica em seu distrito, as pessoas saem às ruas com
cartazes dizendo “not in my backyard”.
Os Estados Unidos são o
nosso “backyard”, como somos o deles.
Há, às vezes, emoções
negativas que resultam de desentendimentos ou interpretações erradas. O
acrimonioso encontro entre John Kennedy e Nikita Krushchev, em Viena, em junho
de 1961, por exemplo, começou mal a partir do momento em que os dois foram
apresentados e o presidente americano mirou o líder soviético de alto a
baixo, repetidas vezes.
Krushchev se sentiu
insultado e adotou uma postura belicosa em todas as conversas, que giravam,
entre outras coisas, ao redor do destino de Berlim Oriental. O resultado é que,
dois meses depois da Conferência, os soviéticos construíram o Muro de Berlim,
por eles chamado de “Muralha Anti-Fascista”.
A verdade, bem mais simples,
é que Kennedy se sentia inseguro e intimidado.
Dois meses antes do
encontro, Kennedy havia passado pela humilhação da desastrosa invasão da Baía
dos Porcos. Até hoje há quem procure eximi-lo daquele fracasso e diga que
ele, pego de surpresa pela incursão militar, adotou uma postura “heróica” ao
resistir aos apelos da CIA para dar apoio aéreo aos invasores.
A verdade é que os planos
para a invasão da Baía dos Porcos tinham sido minuciosamente traçados pela
administração de Dwight Eisenhower e foram passados ao governo Kennedy. Os
americanos estavam mancomunados com os exilados cubanos, e os financiavam,
desde o início. Os Invasores haviam sido treinados pelos americanos.
Kennedy sabia de tudo e,
longe de ser heróico, abandonou os exilados à própria sorte quando a
invasão revelou-se um completo fracasso desde o momento em que eles puseram os
pés em Cuba.
Outro incidente famoso
esteve no acordo secreto em
que Kennedy comprometeu-se a retirar mísseis americanos da
Turquia se Krushchev antes retirasse - como o fez - os mísseis soviéticos de
Cuba.
Este foi um episódio em que Estados Unidos
e União Soviética estiveram a um passo de um conflito nuclear e os estudiosos
hoje se perguntam como esta e outras decisões tomadas por Kennedy podem ter
sido influenciadas, positiva ou negativamente, pelas drogas que consumia.
Hoje sabe-se que se Kennedy
fosse, por um exemplo, um atleta que se apresentasse para uma competição, seria
imediatamente barrado no exame anti-doping. A conselho de um médico meio
pilantra que atendia pelo apelido de “Dr. Feelgood”, Kenedy era injetado
diariamente com uma incrível mistura de drogas e medicamentos, que incluíam
hormônios, esteróides, células de animais, vitaminas, enzimas, analgésicos e
anfetaminas.
Além disso, vivia espremido
em um colete para sustentar sua coluna. Tudo por causas de ferimentos sofridos
na Segunda Guerra Mundial.
Curiosamente, nesta semana,
nos Estados Unidos, o ex-boxeador Mike Tyson lança sua autobiografia em que
confessa ter sempre lutado sob o efeito de drogas e faz uma observação que bem
poderia se aplicar a Kennedy:
“A história das guerras é a
história das drogas. Todo grande general e todo grande guerreiro era drogado”.
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