O povão já percebeu a quem interessa a confusão


Fernando Brito, Tijolaço 

"Ontem, este blog se preocupava em avaliar como “a oposição errou na mão e virou o fio“.

Hoje, a pesquisa da Folha, com todas as restrições que possa ter, confirma essa percepção, sensível a qualquer um que se importe em notar o que pensam e sentem as pessoas foram de seu pequeno círculo de convivência e identidade.

Se não é surpresa o que se passou, talvez surpreenda a muitos o que vai se passar à medida em que o discurso transtornado de que é a realização do torneio mundial de futebol que impede a solução dos problemas nacionais, um mistificação dedicadamente construída pela mídia nos últimos anos, a princípio restrita aos atrasos e custos na construção de estádios e, depois, ampliada indistintamente para tudo o que se faz em matéria de obras públicas neste país, como se estivessem sendo feitas usinas, refinarias, navios, ferrovias e tudo o mais em razão da Copa.

A exploração política excedeu os limites da credibilidade pública e instintivamente o povão vai percebendo isso, embora os setores de classe média, do lado oposto, vão assumindo uma posição hidrófoba em relação ao governo e, no clima de irracionalidade, muitos se deixem levar por manipulações.

Um detalhe da pesquisa Folha demonstra isso.

A afirmação de Lula de que era “uma babaquice” a história de que deveria haver metrô até dentro dos estádios, apresentada por jornais e televisões totalmente descontextualizada – tem 34 por cento de aprovação total e 16 de aprovação parcial. Soma de 50%, portanto.

Isolada desta forma e não dentro do contexto em que foi dita – quando elencava as razões sobre o mais importante numa Copa ser a festa, o encontro, a torcida, o convívio, a acolhida aos turistas – é obvio que uma frase assim deveria receber muito mais rejeição que os 36% que registra.

Mas, ainda que tenha sido apresentada assim, divide em partes iguais os entrevistados.

O mais provável é que, muito mais que uma resposta à questão em si, os números podem revelar muito mais a percentagem de acolhida política a Lula e à sua orientação.

Um terço a favor em qualquer circunstância, um terço contra de qualquer forma e o restante aberto a ouvir e ponderar e uma situação muito favor muito favorável em São Paulo, sede do anti-lulismo nacional.

À medida em que os fatos forem desfazendo a imagem que a mídia construiu (quem esqueceu do “imagina na Copa?”) de “zorra total” da organização da Copa – percepção também revelada na pesquisa – também se desfará em grande parte a imagem caprichosamente formada de que uma competição disputada por dezenas de países pelo seu poder de alavancagem nacional possa ser danosa ao Brasil.

A pesquisa também revela o apego à ideia da liberdade e da democracia, porque mesmo o sentimento de que está sendo prejudicado – e perversamente, muitas vezes, pela absolutamente provocadora atitude de qualquer pequeno grupo ou parte de categoria profissional de interromper o deslocamento de milhões de trabalhadores – defende o direito de manifestação e protesto."

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