Como o Tinder e a internet mataram o amor

"Publicado originalmente no site The List, este texto é do escritor Ewan Morrison / Diário do Centro do Mundo

Esse é um encontro típico de um futuro não muito distante: um jovem (K) e uma garota (A) vão a um bar. Ambos têm iPads e compartilham clipes e mensagens enviadas por amigos. Seus amigos estão assistindo ao vivo e comentam sobre como A e K têm boa aparência e combinam. O encontro começa com 200 pessoas online e o número começa a subir.

Amigos fazem sugestões – “chegue mais perto”, “toque sua mão”. Eles são avaliados num site. “Olha, nós temos 2.000 seguidores,” A diz para K. “Rápido, diga algo romântico.” K se esforça. “Então, você gosta de neo punk?” “Sim”, responde A. “E você curte burlesco”. Ela devolve: “Yeah”

A paquera é difícil, pois ambos já sabem que eles compartilham os mesmos interesses em matéria de filmes, música, TV, política e esporte. Esta foi, afinal, a razão por que eles foram selecionados através de algoritmos (outros fatores incluíam peso, etnia e preferências religiosas e sexuais).

K pede a seus amigos online que sugiram piadas. Cem sugestões aparecem e eles as compartilha com A. Mas, de alguma forma, isso não foi muito engraçado. Ela se pergunta se acha mesmo K atraente. Será que os algoritmos deram erro? A pede a seus amigos que votem: “Eu gosto dele?”

A e K se concentram em suas estatísticas. Eles tentam agradar seus seguidores – que são, afinal de contas, os que vão decidir se eles devem ir para a casa dele ou dela e consumar o ato, que será filmado e compartilhado com a classificação “quente” ou “frio”. Na sua mesa, sem palavras agora, K e A sentam e esperam os resultados. Eles estão desapontados por tantos espectadores desistirem. Seus amigos devem ter escolhido outro encontro online de centenas de milhares disponíveis.

Isso pode soar como uma distopia futurista, mas as tecnologias necessárias já estão aqui. Sites como Match.com, eHarmony e OkCupid agora compilam dados para fazer pré-selecções de parceiros. Foi-se a possibilidade de um encontro casual com alguém com renda diferente ou outro background – um dos pré-requisitos, no passado, para o amor romântico e para o fenômeno dos “opostos que se atraem”.

O namoro online costumavam ser um pouco sórdido, uma aventura secreta, mas agora ele virou “social”, com sites como Badoo, Matchmaker e Gelato que misturam dados do Facebook. O fascínio do sexual é que ele é anti-social. Mesmo os antigos bastiões da clandestinidade, porém, agora têm avaliações de usuários. “Jim é gostoso, mas tem problemas com halitose”.

O namoro através de redes sociais e aplicativos está se tornando o que casamentos arranjados já foram, com algoritmos e avaliações substituindo estruturas familiares opressivas. Graças à internet, privacidade e mistério – outros ingredientes essenciais para o amor e luxúria – estão morrendo rapidamente.

Tinder, Blendr, Swoon usam GPS, ou seja, todos os seus movimentos estão sendo mapeados, possivelmente pela NSA e a CIA. Amor e desejo morrem quando tudo é transparente. A internet está substituindo os mistérios da sedução pela vigilância socializada. Então, o que resta para as artes do amour na era do Big Data, agora que temos tudo o que queremos com o toque de um botão e nós mesmos compartilhamos tudo publicamente de modo que nossas vidas interiores deixaram de existir?

Há uma solução radical que pode ainda nos salvar, e que é impensável em uma época em que acreditamos que o progresso tecnológico é a única resposta: tornar-se um ludita em nome do amor – e desligar o smartphone, estúpido."

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