A revolução das frutas

Quando usava calças curtas, kiwi era aquele bichinho da Nova Zelândia
"Sim, vivíamos sem o kiwi, sem a lichia, o ponkan e a laranja Bahia importada 

Alberto Villas, CartaCapital

Outro dia perguntei aqui como vivíamos sem o forno micro-ondas, sem a internet, sem o celular, sem um punhado de coisas. Hoje estou aqui pra lembrar que não era só engenhocas tecnológicas e utensílios domésticos que não existiam.

Foi no domingo passado, andando pela feira-livre aqui da Lapa e dando uma olhada nas bancas, que percebi que muitas daquelas frutas maravilhosas ali expostas simplesmente não existiam no meu tempo de menino.

O kiwi, por exemplo. Quando usava calças curtas, kiwi era aquele bichinho da Nova Zelândia, um dos poucos verbetes da letra K, na enciclopédia que ficava na estante da minha casa.

Não havia tomate cereja! Vivíamos sem ele. Como não havia a lichia, nem o mamão papaia. Mamão era só daqueles grandões e, me lembro bem, quando surgiu nas feiras, era chamado de mamão da Amazônia.

A gente não encontrava goiaba na feira, como não encontrava caju, nem jabuticaba, nem carambola. Goiaba era só no pé e com bicho, não existia goiaba sem bicho. Caju, só no cerrado. Jabuticaba, só em Sabará e carambola, só na chácara de Dona Catarina, em Cataguases.

Não havia ponkan no meu mundo juvenil. Era só mexerica, que os gaúchos chamam até hoje de bergamota e pronto. Como não havia avocado, aquele abacate pequenininho que a gente come com molho rosé. Abacate, era só aquele enorme que partíamos no meio e enchíamos de açúcar o vazio deixado pelo caroço.

Hoje as frutas foram se multiplicando. Maçã era só aquela verde, azedinha, e a  argentina, que vinha embalada num papel azul de seda cheiroso, que  virou até música de Caetano Veloso.

O oliva da nuvem chumbo ficando

Pra trás da manhã

E a seda azul do papel

Que envolve a maçã

Hoje tem maçã brasileira, a Fuji, a Jumbo, tem até maçã da Mônica. Outro dia mesmo ouvi no supermercado uma menininha pedindo pra mãe:

- Compra maçã da Mônica?

Algumas frutas só existiam em determinadas épocas. A uva Niágara, por exemplo, só era vista da véspera do Natal, até o início do ano. Morango, manga e figo a mesma coisa, tinha época. Hoje a gente vê uva, morango, manga e figo o ano inteiro.

Olho pras bancas e tem fruta que nem conheço. Então pergunto pro feirante, que sabe tudo, e ele logo responde:

Atemoia!

Magostim!

Pitaya!

Kino!

Maná!

Laranja era a pera, a Bahia e a lima. Hoje tem até laranja Bahia importada da Espanha, sem contar o grapefruit, primo de primeira da laranja.
Aos poucos, novas frutas vão invadindo o mercado.

Uxi

Xixá

Tapiá

Sapucaia

Monguba

Marolo

Guabiju

Apurui.

Parece até música do Djavan.

Agora, quem manteve a linha e não inventou moda foi a banana, que continua a mesma de sempre. A prata, a nanica, a maçã, a banana da terra e a ouro. E todas - dizem – ainda a preço de banana."

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