Daniela Pacheco, Cinema de Buteco
'Quando assisti The Bling Ring em 2013, adorei como Sofia Coppola fez uma crítica à sociedade consumista e a falta de limites de jovens no mundo atual, mais especificamente nos Estados Unidos (baseado em fatos reais). Agora, chegou a vez da David Cronenberg fazer algo parecido em relação à Terra do Tio Sam, ao fazer uma sátira a Hollywood em Mapas Para as Estrelas (Maps to the Stars, 2014). Ousado e chocante, com deliciosos toques de humor e performances geniais de Julianne Moore e Mia Wasikowska, trata-se de um filme imperdível sobre fama e família.
Assim que os créditos começaram a rodar,
fiquei alguns segundos na cadeira tentando me recuperar do que havia
visto nas últimas duas horas. No caminho pra casa, continuei absorvendo,
depois do almoço e cá estou eu escrevendo esta crítica no fim do dia.
Conheço Cronenberg de outros longas e gostei de como ele adotou Robert
Pattinson e Sarah Gadon em seus últimos trabalhos, dando-lhes papéis
interessantes, os quais lhes dão a capacidade de mostrar o quão bons
podem ser se bem dirigidos e nos papéis certos. Ambos estão coadjuvantes
aqui e não deixam de fazer um bom trabalho, mas o que mais me
impressionou na produção foram as atuações magníficas de Moore e
Wasikowska.
Escrito por Bruce Wagner, o roteiro envolve diversos personagens, todos
conectados de alguma maneira. Temos Agatha (Wasikowska), jovem que chega
a Los Angeles e, graças à “amizade” com Carrie Fisher – até parece, mas
ok, ficção -, consegue um emprego como assistente da decadente e
traumatizada atriz Havana Segrand (Moore). Esta, por sua vez, trata o
abuso que sofreu da mãe, a também atriz Clarice Taggart (Gadon), com o
psicólogo Stafford Weiss (John Cusack), cuja família está longe de ser
saudável. Christina (Olivia Williams) é sua esposa, além de ser
responsável pela carreira do filho de 13 anos, Benjie (Evan Bird),
protagonista de uma franquia de enorme sucesso no mundo e que acaba de
sair um centro de reabilitação.
O enredo explora os demônios de cada personagem, seja com Havana tentando se livrar do fantasma da mãe e conseguir estrelar a adaptação de um clássico que ela fez no passado, seja com Benjie enfrentando fantasmas de crianças e dando shows de rebeldia e arrogância adolescente diante dos outros. Agatha também tem os seus problemas e encontra no ator/motorista Jerome (Pattinson) um amigo e possível romance ao chegar na glamorosa cidade de L.A.
Cronenberg discute na telona o mundo não
tão glamoroso de Hollywood, expondo jogos de política, falsidade,
drogas e sexo, os quais envolvem tanto artistas experientes quanto novos
(menção de nomes como Demi Lovato, Oprah e Harvey Weinstein estão no
meio). A questão da família também aparece, mas talvez de um modo que
nem todo mundo goste de ver. Isto porque a relação entre Havana e
Clarice era terrível, algo que se repete com Benjie e seus pais, e ver
um abismo tão grande entre parentes é difícil. E como isso é retratado
na película não ajuda em nada: alucinações, gritarias, brigas e
tragédias aparecem ao decorrer da história.
Moore está impecável em Still Alice e
mereceu o Oscar por tal papel, mas devo dizer que prefiro muito mais sua
performance no filme de Cronenberg. Ela está engraçada, dramática,
assustadora e falsa e como ela administra tantas facetas é
impressionante. Provavelmente em função do tom crítico do roteiro em
relação à Hollywood e seu conteúdo demasiadamente pesado, a Academia
preferiu reconhecê-la pela personagem com Alzheimer. Wasikowksa me
encantou com a maneira como deu vida à Agatha, um jovem imatura e
misteriosa que tem um destino previsível, mas que, mesmo assim,
deixa-nos com o queixo caído.
Mapa Para As Estrelas é uma saga
eletrizante e que não poupa o público de críticas e loucuras em nenhum
momento. Um filme duro ou, como diria um amigo cinéfilo, “um soco no
estômago”. Um soco que não nos mata, mas, definitivamente, um soco que
deixa marcas.
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