Quando o Google encontrou o WikiLeaks

Antonio Ateu, GGN  / Blog da Boitempo


"O que está por trás do Google e do sistema operacional Android, tão presentes em nossa vida? Quais os interesses das ferramentas de livre acesso da internet e das tecnologias de comunicação? A quem pertencem as informações geradas por cada passo que damos na era tecnológica?

Em junho de 2011, Julian Assange recebeu a visita inesperada do presidente do Google, Eric Schmidt, na casa de campo onde residia sob prisão domiciliar, em Norfolk, na Inglaterra. Durante horas, o líder sitiado da organização editorial insurgente mais famosa do mundo travou um embate de ideias com o bilionário responsável pelo maior império da informação que já existiu, em uma discussão voltada para os problemas políticos enfrentados pela sociedade e as soluções tecnológicas criadas pela rede global – da Primavera Árabe ao Bitcoin.

Os dois representam perspectivas radicalmente opostas: para Assange, o poder libertador da internet baseia-se em sua natureza livre e sua falta de vínculos com países, enquanto para Schmidt a emancipação está em harmonia com os objetivos da política externa dos Estados Unidos, motivada pelo estabelecimento de comunicações entre países não ocidentais e empresas e mercados norte-americanos. Pontos de vista distintos em um cabo de guerra acirrado sobre o futuro da internet.


Este livro relata o encontro entre Assange e Schmidt. Entre o fascínio e a alarmante revelação de um nada admirável mundo novo, contém a íntegra da conversa e um material inédito escrito por Assange, delineando ponto a ponto sua visão sobre o futuro da internet.
Leia abaixo a orelha do livro escrita por Slavoj Žižek:
As realizações do WikiLeaks podem ser resumidas pela autodesignação irônica de Assange como um “espião para o povo”. “Espionar para o povo” não é uma negação direta da espionagem (o que equivaleria a agir como um agente duplo, vendendo os nossos segredos ao inimigo), mas sim sua autonegação, ou seja, o questionamento do próprio princípio da espionagem, o princípio do sigilo, uma vez que seu objetivo é levar os segredos a público. Assim, o WikiLeaks atua de forma semelhante a como a “ditadura do proletariado” marxista deveria atuar (o que, é claro, raramente foi o caso): como uma autonegação imanente do próprio princípio da ditadura. Para aqueles que acham que o comunismo é uma espécie de espantalho, deve-se dizer que o WikiLeaks está praticando o comunismo ao tratar a informação como um recurso comum da humanidade.
Recentemente, nossos recursos comuns informativos se exteriorizaram como um dos principais domínios da luta de classes em dois aspectos: econômico, no sentido estrito, e sociopolítico. Por um lado, as novas mídias digitais nos confrontam com o impasse da “propriedade intelectual”. A própria natureza da World Wide Web parece ser comunista, tendendo ao livre fluxo de dados. Essa livre circulação, é claro, vem acompanhada dos próprios perigos: tal abertura levou ao surgimento de provedores não criativos (Google, Facebook) que exercem um poder quase monopolista para regular o fluxo de dados, enquanto as pessoas que criam o conteúdo se perdem no anonimato da rede.
Alguns defendem um retorno em massa à propriedade privada como solução: tudo o que circula na web, incluindo dados pessoais, deveria ser tratado como uma mercadoria valiosa e remunerada e tudo deveria ser atribuído com clareza a uma fonte humana individual. Embora seja verdade que a livre circulação anárquica e anônima gere as próprias redes de poder, é preciso questionar a solução proposta: será que a privatização global é realmente a única maneira de regulação?
Por outro lado, a mídia digital abriu novos caminhos para milhões de pessoas comuns criarem uma rede e coordenarem suas atividades coletivas, além de oferecer a órgãos do governo e empresas possibilidades até então jamais sonhadas de rastrear os nossos atos públicos e privados. Foi nessa luta que o WikiLeaks interveio de maneira tão explosiva.


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