Números do Des-Alinhavo (uma conclusão)

Maíra Vasconcelos, GGN

I

Quem é ?

Não posso atender agora. Estou com meus Des-Alinhavos.
, e posso dizer, não entra mais ninguém aqui , , , abri a porta para as presenças da solidão, , ,

Os compromissos – ditos formais – estão subindo pelas paredes.
Este quarto é.

II

O que tenho ? Não sei. Mas é assim:
Salta-pulsa, bem lá dentro, e fica sempre abafado como flor de espinhos no deserto.

*
O que são crises de choro? Se o rio já é tão derramado desbordado.O que mais querem?

A cara da gente faz cada esquisitice!

*

Eu vou subir montanha.

Virei.

Minha mãe tem profundidade de mar.
Voltei.

Estar no avesso do aveludado sentir é uma incógnita.

Qual é o seu lado ? Pois, Eu, vou-estou em todos os lados!

III

O pavor que a arte me provoca é proporcional à necessidade que meus pulmões
têm (eles)
da sua verdade.

O sopro vira palavra.

*

Não estou a conseguir escrever no formato comum. Este momento joga-me à beira de qualquer não-palavra.

Não - n  ã   o  -  n      ã       o  .  .  .
Pois bem, vejam. O meio-fio desliza incorretamente.
Ser certa é tão difícil.

.ah, se não tenho mãos firmes adaptáveis à clima de deserto!
Flores desérticas são um passo aventado áspero junto ao vento-maior.

Estas flores enfeitam apenas uma parte do mundo. O resto voa mesmo.

IV

Queria poder retorcer tudo:

Ramificar todas as palavras em marrons torcidos, entre tons terrosos claro-escuro.

E ao ler, que fosse como ter uma árvore,
A dependurar-se em seus bonitos amassados galhos.

Depois ter-se-á que deixar tudo liso
.mudou de lado.

Para aguadas palavras.

E findo, todo esse sacrifício não passa de um sinal de amor.
Cansem-se dos meus des-alinhamentos!.

*

Quantas lágrimas carregará um corpo?

Minha mente desenhou-me agora uma balsa inundada,
e tem tanta água chacoalhada!
 .não sei que corpo é este!.

V

Se algum dia dizem serem meus Des-Alinhavos alguma espécie de poesia,
Quebro um vidro inteirinho na cara de quem o diga.

*

A produção vai começar: num mastigo só, como muita estrada.

O que irá sobrar depois ? Não é bom ir acelerado.

Depois fica-se sozinho olhando o mundo desde um quarto fechado.

VI

Não sei, qual AGULHA uso para este tecer e des-tecer ?;
Que velhice macabra!, meu ousado Deus!

Vou abrir na AGULHA um corpo em cima da mesa, e dizer que este é um quadro de Velázquez.

Ou uma cópia daquela famosa autopsia bem pintada.

Que gente descabeçada!

Espero nunca conhecer um pintor.

Mas por que as cores deles falam comigo ?

*

Paula Modersohn-Becker:
pintora que me inspira a vestir outra nova pintora.

Paula Becker pincelou a filha que nunca viu-cuidou:
estava tendo premonições coloridas em vida.

VII

.não posso gastar mais de 3 páginas des-alinhavando esta vida-cada-dia.
Quem eu penso que sou ?

Alguém que des-alinha e renova, mesmo sem saber segurar uma só agulha, talvez.

VIII

Porque eu falo de quem bem quiser,
e quando se fala a memória pratica o revívio das coisas.
Sshhiiiii...

Quero escutar:
Quem fala nos recortes caseiros destes Des-Alinhavos ?

Seus nomes, por favor:
.apenas o nome!.

ah!. Vão embora, não lhes quero ver jamais!

IX

Farei Des-Alinhavos serem homenagens a,
 queridos e estimadas figuras merecedoras de bem-vir.

Cada Des-Alinhavo faz chegar ao mundo Real aquilo que não estava.
Destrava.

E eu sorrio.

Outros poderão reviver, aqui, .depois de agulhadas e infindadas necrópsias bem feitas, versaria A. dos Anjos.

*

(Não sei se pintores, ou poetas,
qual será pior que o outro?)

X

Este jornal está a criar alguém feroz com uma AGULHA nas mãos.
De palavras destemidas com pés , , , (F) fajutos cravados no teatro.
A cabeça solta, porém colorida,
a criatividade no bolso furado.

Caiu, escorregou pelo todo corpo! Criou!

Para sempre sorrir.

.ah!, como será preciso muito des-costurar!

*

Mas, quem está ? , no alinhavo desta minha vida-cada-dia? ? ? detrás, ou entre tudo isso ? ?alinhavando o que depois somente devo des-alinhavar,
!deixando-me à merce com esta AGULHA!

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