Será que o cara do Pânico acha engraçado lamber uma mulher contra a vontade dela?

Humor isso?
Nathali Macedo, DCM

Certa vez liguei a TV e me deparei com o Pânico na Band. Já ouvira falar, pelas timelines da vida, que se tratava de um programa de péssimo gosto – como a esmagadora maioria dos programas da TV aberta brasileira. Prossegui.

Em menos de três minutos de um besteirol insuportável, pude comprovar os boatos ao ver um homem – algum membro da equipe de “repórteres” de cujo nome não me recordo – ferindo o próprio pé com uma talhadeira, enquanto os demais riam da cena nojenta e grotesca.

Vez ou outra o programa de “humor” voltava a aparecer nas redes sociais quando algum repórter fazia besteira ao vivo – o que é recorrente, ao que me parece – ou uma assistente de palco resolvia raspar a cabeça em rede naiconal num ato desesperado e sensacionalista.

Nada disso merecia minha atenção – nem a de ninguém, arrisco dizer – até que o “repórter” Lucas Maciel (quem o conhecia até esse triste episódio?) passou dos limites:

Durante a cobertura do Comic Con Experience 2015, um evento Geek de visibilidade mundial realizado em São Paulo, ao entrevistar uma das participantes, o “repórter” teceu um comentário debochado – e sem graça, como de praxe – sobre a pintura corporal da moça: “parece bronzeamento artificial de panicat, quando dá errado.” Não satisfeito, ele LAMBEU a pele da entrevistada sem cerimônias em rede nacional.

O episódio é chocante porque nos damos conta, mais uma vez, do quanto a ideia de que o corpo da mulher está disponível como se fosse patrimônio público está fortemente enraizada em programas de TV medíocres.

Outros participantes – homens – foram entrevistados pela mesma dupla de repórteres – com as mesmas sacadas clichês e piadas sem graça – mas ninguém foi lambido sem prévio aviso.

Assim como a esmagadora maioria dos programas de “humor” da TV aberta brasileira, o “Pânico na TV” faz piadas de mau gosto com os oprimidos e usa o risível para reforçar preconceitos. Este é o retrato do humor comum, medíocre e limitado, que não merece espaço nas nossas salas ou acréscimos na nossa conta de energia.

O verdadeiro humor – aquele de Chaplin, por exemplo – é o que considera a velha máxima de que “tem graça rir do opressor, e não do oprimido.” Este é o humor inteligente, útil e, sobretudo, verdadeiramente engraçado – porque rir das minorias que já sentem na pele o peso de suas opressões diárias é, no mínimo, lamentável.

Ferir o próprio pé com uma talhadeira em rede nacional é o cúmulo do desespero e da falta de talento, mas lamber uma mulher ao vivo sem a sua permissão ultrapassa todos os limites de uma busca patética por audiência.

Após o episódio, o Pânico foi banido do evento. Diante disso e de toda a repercussão – justíssima, aliás – que a atitude esdrúxula gerou nas redes sociais, ao Pânico fica uma lição: Berrem por audiência à vontade, nós continuaremos suportando a vergonha alheia. Mas não voltem a tocar no corpo de uma mulher sem permissão"

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