Se Nego do Borel queria homenagear os LGBTQ, poderia começar beijando seu ídolo Bolsonaro


por Nathalí Macedo, DCM -

Chegamos ao fundo do poço da lacração capitalizada: um homem heterossexual beijou outro homem em seu clipe – com mais de três milhões de vews antes de completar 24 horas – para levantar a bandeira LGBTQ(cêdário).

O clipe da música “Me solta”, de Nego do Borel, é a receita perfeita da lacração: ambientado numa favela, no maior estilo fetichização da pobreza, com muita mulher negra dançando, homens se beijando e um gordinho pra fechar o pacote representatividade.

A lacrolândia vai à loucura.

O cantor lançou recentemente um clipe com lacrantora Anitta, que por sua vez é adorada pelos militontos mas apoia a candidatura João Doria, inimigo dos pobres e dos pixos. Nego do Borel também tem lá seus camaradas duvidosos: posou todo orgulhoso em uma foto ao lado de Jair Bolsonaro, o político mais escancaradamente homofóbico do país.

A militância identitária dos que se intitulam pós-modernos é um grande e lucrativo negócio. Divas da lacração – e seus produtores, evidentemente – ganham milhões com representatividade e “homenagens” – vide a própria Anitta e Pablo Vittar, rainhas das bee.

A apropriação da “lacração” pelo capital não é exatamente uma novidade, mas dessa vez passamos dos limites.  Um homem heterossexual beijar outro homem em homenagem aos LGBTQ é como um branco fazer black face como uma homenagem aos negros.

A militância identitária frenética tem alimentado uma geração de artistas pautados quase unicamente na questão idenditária. A busca por representatividade tem ultrapassado o talento e ultimamente até o tão adorado lugar de fala.
Pouca coisa importa. No fim, importante mesmo é lacrar.

Se a intenção de Nego do Borel era homenagear aos LGBTQ, poderia começar não tendo sua imagem associada à de um homofóbico declarado que disse que seus filhos não se tornariam gays porque foram muito bem-educados.

Quer homenagear às bichas? Use sua influência na opinião pública para combater a homofobia. Não fetichizar a sexualidade alheia é também uma bela homenagem.  Quer homenagear os LGBTQ?

Contribua com o trabalho artístico de mulheres lésbicas. Deixe que as próprias Gays e Lésbicas e Bissexuais e Trans e Queers se beijem em praça pública ou em uma superprodução ambientada na favela.

Por falar em favela, quer bancar o favelado? Vai morar na favela.

Especialmente em dia de visita do caveirão.




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