por José Reinaldo Carvalho, Brasil 247 -
A sentença do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, interditando-o de candidatar-se à Presidência da República no Brasil, é mais um fato escandaloso a despir aos olhos estupefactos do mundo, para a vergonha nacional, o caráter retrógrado das instituições que imperam hoje no Brasil.A conduta ditatorial dessas instituições levando adiante uma inominável perseguição política ao maior líder popular da História do país faz parte do fio de acontecimentos de um golpe político, parlamentar e midiático, erradamente chamado de golpe brando, à imagem e semelhança, ressalvadas formas peculiares, do que ocorre em toda a região da América Latina e Caribe.
Vivemos hoje os efeitos de uma multifacética ofensiva reacionária, conservadora e restauradora neoliberal, fruto de interesses convergentes e de esforços combinados entre as elites mundiais do sistema imperialista, do governo dos Estados Unidos como seu núcleo hegemônico, e das classes dominantes a ele aliadas da região.
A prisão de Lula e agora o impedimento de que seja candidato à Presidência da República no Brasil é uma etapa culminante da série de golpes perpetrados pelo imperialismo e as oligarquias locais desde o golpe contra Zelaya, em Honduras (2009); o golpe parlamentar contra Fernando Lugo, no Paraguai (2012); o impeachment contra Dilma Rousseff no Brasil (2016), e as vitórias eleitorais fabricadas na Argentina, no Chile, Paraguai e Colômbia. A exceção é o México, onde venceu uma corrente patrtiótica, o que pode representar um ponto de inflexão da conjuntura política latino-americana.
No Brasil, um torquemada travestido de juiz liberal, pretenso intelectual e reformador orgânico da direita, persegue Lula, o PT e o conjunto da esquerda, considerando-se vocacionado a promover a refundação da República. Posiciona-se na vanguarda de uma operação de desqualificação da política democrática e progressista, confundida, em seu linguajar empolado e postura teatral, com as abomináveis práticas de políticos carcomidos das classes dominantes, ultrapassados, alvos fáceis de críticas a práticas que supostamente justificariam a terra arrasada da vida política.
Ao tempo em que fazem isto, os setores golpistas alentam objetivamente a ação do neofascismo brasileiro, a fim de forjar uma polarização deste com a direita pretensamente republicana e centrista, representada pelo candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, numa ação retroalimentadora que chega ao ponto de um ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, explicitar a estratégia do antipetismo para forçar um segundo turno entre o ex-governador paulista e Bolsonaro.
Esta manobra não deixa de ser mais uma movimentação no sentido de favorecer os planos da direita e radicalizar o discurso antipetista e anti-esquerda, considerando, segundo as palavras de Fernando Henrique Cardoso, que o PT hoje está mais "intransigente" e "hegemônico"do que antes. Nesta crítica reside a reação das classes dominantes referenciadas no PSDB de FHC e Alckmin ao grande e virtuoso giro estratégico e tático do PT para a esquerda a partir do golpe que depôs a presidenta Dilma.
O postulado de FHC é uma manobra estratégica e tática voltada para impedir o credenciamento nas urnas de 2018 de uma alternativa antineoliberal, democrática, progressista e popular, a favor do Brasil, de seu povo e demais povos latino-americanos e caribenhos. Ele preconiza a polarização Bolsonaro versus PSDB.
Não pode a esquerda brasileira cair no derrotismo e resignação. A polarização é outra: Lula versus quem vier do lado de lá representando a direita.
É sintomático que enquanto isto ocorre no Brasil, estão em pleno vapor as campanhas para derrocar o governo sandinista nicaraguense, o bolivariano na Venezuela, intensifica-se o bloqueio a Cuba e apareçamn os sinais do combate para derrocar o governo popular de Evo Morales na Bolívia.
A vitória das forças progressistas e de esquerda no Brasil em 2018 é condição sine-qua-non para que a América Latina siga em pé de luta e mantenha através da Celac - Comunidade de Estados Latinoi-Americanos e Caribenhos - a decisão de atuar com sentido unitario e integrador.
Isto implica o apoio do conjunto das forças de esquerda brasileiras à decisão do Partido dos Trabalhadores de lutar "contra a cassação política, com Lula até o fim", e do Partido Comunista do Brasil, que condenou a decisão do TSE de impugnar Lula como uma "afronta à democracia" e conclamou o povo brasileiro a dar "a essa violência contra a democracia" uma resposta, que é a "vigorosa campanha eleitoral para eleger, em 7 de outubro, a chapa presidencial liderada por Lula, com ele candidato ou não".
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